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Santos enfrenta avanço do lixo no mar; Porto e descarte doméstico estão entre os principais vilões.

Microplásticos e lixo trazido pelos canais escancaram falhas de saneamento e colocam em risco a vida marinha, o turismo e a população local.

PACTO GLOBAL

A cidade de Santos, no litoral paulista, é um dos destinos mais procurados por turistas no estado. As praias são palco de descanso e lazer, mas também possuem uma questão preocupante: a poluição marinha. Isso porque o mar de Santos enfrenta um problema ambiental que dura anos: o acúmulo excessivo de microplástico e metais pesados no mar.

Os altos índices afetam a costa marinha, moradores, turistas e trabalhadores que sobrevivem da pesca na região. Estima-se que só em janeiro de 2025, mais de mil toneladas de resíduos foram tiradas da faixa de areia. O grande número é preocupante e gera um alerta para a preservação e mudança deste cenário.

Um dos dados mais alarmantes divulgados em 2025 veio de um estudo recente, realizado por pesquisadores brasileiros, que apontou o Rio dos Bugres, que atravessa Santos e São Vicente, como o segundo mais poluído por microplásticos do mundo. O número expõe a gravidade da situação na Baixada Santista e reforça que o problema da poluição marinha começa muito antes de a água alcançar a praia.

Para Gabriel Micelli, secretário adjunto de meio ambiente de Santos, a maior parte do lixo encontrado nas praias é doméstico, vindo de áreas de vulnerabilidade social, especialmente regiões de palafitas, onde há infraestrutura precária de saneamento e coleta. “A maior parte do lixo que chega ao mar não vem do turismo. É lixo doméstico, vindo principalmente das áreas de vulnerabilidade. Não dá para falar de meio ambiente sem falar de moradia; não adianta só limpar a praia. Se não houver política pública de habitação, o problema volta no dia seguinte”, afirma.

Outro vilão dessa poluição são os esgotos com ligações clandestinas, que estão espalhados por toda cidade. Essas ligações levam o lixo direto para o mar e intensificam a poluição da cidade. “Grande parte do problema da poluição começa antes de chegar ao mar: está nas ligações clandestinas de esgoto que despejam tudo diretamente nos canais. Muita gente ainda faz descarte irregular, inclusive jogando pequenos recipientes no vaso sanitário. Isso vai parar na rede clandestina, chega aos canais e, inevitavelmente, ao oceano”, destaca Gabriel.

Apesar de ser motor econômico da região, o Porto de Santos também aparece como um dos responsáveis pelo problema ambiental no mar. Segundo Gabriel Micelli, há impactos tanto pelo descarte irregular de resíduos por embarcações quanto pela queima de combustíveis. Ele afirma que a Prefeitura mantém um diálogo constante com a autoridade portuária para reforçar a fiscalização e reduzir danos, mas reconhece que ainda há um longo caminho. “O porto é fundamental para a cidade, mas também precisa assumir seu papel no cuidado com o ambiente”, explica o secretário-adjunto.

Para enfrentar o avanço do lixo no mar, a Prefeitura de Santos tem apostado em uma combinação de infraestrutura, fiscalização e participação popular. A coleta seletiva foi ampliada para duas vezes por semana na orla, novos contentores foram instalados e embarcações como os catamarãs seguem recolhendo resíduos diariamente no estuário. Programas como o Detecta, que identifica ligações clandestinas de esgoto, e a Operação em Rede, que utiliza ecobarreiras e envolve moradores na coleta, reforçam o combate direto à poluição. Iniciativas de educação ambiental, como o Currículo Azul, e projetos comunitários em áreas de palafitas também fazem parte da estratégia.

A educação também tem papel central na estratégia ambiental da cidade. Santos foi pioneira ao implementar o Currículo Azul, que leva cultura oceânica para todas as escolas da rede municipal e aproxima crianças e jovens da realidade do mar que os cerca. Além disso, a Prefeitura tem ampliado parcerias com universidades e instituições científicas para monitoramento e pesquisa, como o trabalho conjunto com a Unifesp na análise da qualidade da água na praia. Para Gabriel Micelli, iniciativas assim fortalecem a construção de políticas públicas sólidas: “Quando escola, universidade e gestão pública trabalham juntas, a cidade ganha mais capacidade de entender seus problemas e agir com precisão”, afirma.

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