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Poluição marinha cresce e acende alerta na Baixada Santista

Contaminação avança entre manguezais, estuário e mar aberto, expondo impactos do descarte irregular, desigualdade social e falta de infraestrutura.

Em um cenário de urbanização acelerada, desigualdade social e exploração crescente sobre os ecossistemas costeiros, a poluição marinha avança de forma preocupante na região da Baixada Santista. Os altos índices de poluição afetam a vida de animais, moradores, trabalhadores que sobrevivem do mar e até mesmo turistas, já que Santos é um dos locais mais procurados no litoral de São Paulo. O avanço do lixo no mar não é apenas um problema ambiental, também se tornou um problema de saúde e sociedade, pois o lixo se transforma em contaminação, afetando animais, ecossistemas e a saúde da população.

O plástico descartado incorretamente nos ecossistemas costeiros se fragmenta com o tempo, transformando-se em microplástico devido à ação dos raios solares. Outras partículas chegam já em tamanho microscópico, seja por resíduos urbanos, seja por sistemas de escoamento de água da chuva. Esses fragmentos têm grande afinidade química com diferentes poluentes de metais pesados que chegam ao mar pelo esgoto mal tratado.

O biólogo William Schepis alerta que o resultado dessa contaminação é um efeito cascata que vai muito além dos nossos olhos. Peixes filtradores ingerem microplásticos diretamente presentes na água; já os peixes predadores acumulam ainda mais contaminantes por consumirem presas já contaminadas, gerando a biomagnificação que aumenta a concentração de substâncias tóxicas em cada nível trófico. “Esses contaminantes interferem em processos hormonais, neurológicos e reprodutivos de diversas espécies. Em casos extremos, poluentes orgânicos persistentes podem feminilizar populações inteiras de animais hermafroditas, inviabilizando sua reprodução”, destaca William.

Os manguezais, ecossistema importante, sofrem com ocupações irregulares e descarte direto de esgoto e lixo. O sedimento lodoso desses ambientes funciona como um “depósito” de poluentes: retém matéria orgânica, nutrientes e também substâncias tóxicas. Esse mesmo sedimento, no entanto, também exerce papel depurador, filtrando contaminantes e regulando a qualidade da água. O que é preocupante, visto que a saúde dos manguezais é essencial para a sobrevivência do nosso ecossistema.

Estudos realizados por pesquisadores da UNIFESP mostram que regiões próximas às áreas de ocupação irregular apresentam níveis mais altos de microplásticos, metais pesados e poluentes persistentes. Mas a hidrodinâmica do estuário, com correntes de maré que transportam sedimentos e resíduos, espalha a contaminação mesmo para áreas preservadas.

Durante o verão, o aumento da população flutuante intensifica a produção de lixo e a descarga de esgoto. Embora parte desse resíduo seja recolhida pela limpeza urbana, existe o alerta para a necessidade de educação ambiental e descarte correto, especialmente nas praias. Ainda assim, a maior parte do lixo que chega ao mar não vem dos turistas, mas das áreas de mangue e das redes de drenagem pluvial que carregam resíduos urbanos com a água da chuva. “Desigualdade social, saneamento precário e falta de gestão de resíduos são os principais motores da crise ambiental”, afirma o biólogo.

William Scheffs reforça que educação ambiental é a base de qualquer mudança estrutural no combate ao lixo no mar. Ele destaca que, sem informação clara e acessível, a população não compreende o impacto real do descarte incorreto nem o caminho que o resíduo faz até contaminar o ecossistema e a fauna. “Educar é essencial, especialmente nas áreas vulneráveis. Quando as comunidades compreendem o impacto do descarte incorreto, elas deixam de ser vistas como parte do problema e passam a integrar a solução”, destaca o biólogo.

O biólogo afirma que o cenário atual de poluição não é inesperado: ele é consequência da falta de saneamento e da ausência de uma gestão eficiente de resíduos. Países em desenvolvimento, onde grande parte da população vive em condições precárias, tendem a contribuir mais para a poluição marinha, mas devemos reverter esse cenário. “O lixo só vira vilão porque fazemos dele um inimigo. Mas, se reciclado corretamente, ele pode ter muitas vidas”, afirma William.

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